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A trajetória da diaconisa que sobreviveu à guerra e fez do Brasil seu lar


Quem olha Renate Schulz, de 80 anos, não imagina que por trás de uma senhora de pequena estatura encontra-se uma mulher com uma bagagem de vida que emociona tanto, vai aos extremos em um par de segundos. Infelizmente, começou marcada pela guerra e pela perda, mas Cristo deu à ela um novo significado e transformou sua história em benção.



Infância marcada pela guerra


Renate nasceu na região da Prússia, em 1938, em uma área rural. Os pais eram cristãos atuantes no distrito onde viviam. Sua mãe promovia encontros de crianças durante as semanas e ela desde pequena aprendeu a amar a Deus e a obedecer os Seus caminhos. Seu pai serviu a Primeira Guerra e ficou gravemente ferido. Quando estourou a Segunda Guerra ele não foi convocado. “Com meu pai gravemente ferido ficamos na fazenda e como vivíamos no campo não víamos os horrores dos bombardeios diários que aconteciam em toda a Alemanha. No entanto, no final da guerra com os russos e poloneses entrando no país, decidimos fugir”, lembra.


Porém, eles fugiram tarde demais. As tropas russas e polonesas prenderam as famílias alemãs, inclusive a sua. Seu pai foi levado como prisioneiro para a Rússia, onde morreu anos depois. Ela, sua mãe e suas irmãs ficaram retidas pelos soldados soviéticos e foram maltratadas e agredidas nesse período. “Foi também um período de muita dor e sofrimento para mim que era uma criança de apenas sete anos. Mas para todas as outras mulheres e crianças que estavam naquela situação. Os russos e os poloneses nos maltratavam sem dó nem piedade. Foi terrível”, lembra Renate.


Durante esse período de instabilidade política na Alemanha, sua mãe morreu devido aos sofrimentos e maus tratos dos soldados soviéticos. Renate lembra que ela e sua irmã não puderam comparecer ao velório da mãe, pois chovia no dia e eles não tinham ninguém para cuidar delas. Estavam sozinhas e sem nenhum familiar para cuidar delas. “Os poloneses no desejo de vingança roubavam, matavam, abusavam dos alemães e nós estávamos muito vulneráveis a esses perigos. Foi quando um senhor nos ajudou, mandou minha irmã para um orfanato e eu fui morar em sua casa”, conta Renate.


Cidade do leste da Alemanha destruído após bombardeios, foto: google imagens

A difícil decisão de perdoar


Apesar das dificuldades vividas na infância, Renate conta que foi sendo cuidada por Deus e pessoas tementes a Ele foram colocadas em sua vida para ajudá-la. “Aquele momento de grande dificuldade foi o momento em que nós alemães estivemos mais próximos de Deus. As igrejas estavam cheias e nossos corações estavam quebrantados”, conta.


Foi também nesse período que ela teve o encontro com Cristo. Aos seus 13 anos começou a participar de um grupo de jovens da Igreja Luterana e começou a sentir paz no coração. “Eu estava marcada por perdas e tristezas. Participar daqueles encontros, ouvir falar de Jesus e voltar a me relacionar com Ele começou a me transformar e eu senti um desejo forte de seguí-lo’, lembra.


Renate passou a frequentar os grupos de jovens e nas rodas de conversas entre os amigos da igreja começaram, pela primeira vez, a compartilhar as experiências vividas por cada um. Eram momentos de cura interior, às vezes, pesado devido as bagagens de cada um, mas ela via o agir de Deus naqueles momentos.


“Minha maior dificuldade, no entanto, era perdoar quem tinha me feito mal. Eu me sentia desafiada a perdoar, mas eram muitas marcas”, conta. Perdoar para Renate não foi fácil, mas chegou um momento em que ela decidiu tomar a decisão de dar início a esse processo pessoal dela, sem esperar pela iniciativa de ninguém.


Uma vida de entregas

Aos 17 anos, após os estudos escolares e com a fé fortalecida Renate entrou para o Movimento das Diaconisas da Alemanha. Quando se decidiu por seguir esse caminho, seus tios que haviam a reencontrado não gostaram da ideia. “Eles queriam um outro futuro para mim, mas com o tempo apoiaram minha decisão”, diz.


Nos primeiros anos de diaconia, Renate estudou enfermagem, serviu em hospitais e pequenas igrejas da Alemanha. Foram anos de muitos desafios, aprendizado e de serviço. “Para mim foi muito importante para atender a parte de enfermagem, mais os aconselhamentos e proferir a palavra de Deus aos pacientes de forma a dar um atendimento integral”, conta Renate.


Em 1965, Renate sentiu que era hora de se entregar às obras missionárias fora da Alemanha e o Brasil foi uma nação em que ela sentiu tocada em ir. No dia 08 de maio de 1965, ela acompanhada do pastor Walter Hery e esposa desembarcaram em solo brasileiro.


Diaconia no Brasil


Após as aulas de português e da preparação para lidar as comunidades brasileiras, Renate foi enviada para a cidade de Ortigueira no Estado do Paraná. Lá, ela começou a trabalhar em uma pequena igreja, atuava também como enfermeira, visitava famílias e auxiliava às comunidades mais vulneráveis da região.


“Aquela região era extremamente vulnerável, não tinha energia, asfalto ou infra-estrutura. Tudo era mais difícil de se fazer lá, existia uma demanda muito grande. Não havia médicos. E só havia uma farmácia. Além dos trabalhos na igreja, além do ensino da palavra para crianças e senhoras, vi a necessidade das pessoas, especialmente dos pobres. Procurei dessa forma, atendê-los com aconselhamentos, ensinos e trabalhos manuais. Atendia aos doentes e as pessoas vinham de toda a redondeza buscando atendimento”, lembra emocionada.


Casa Matriz, primeira casa das diaconisas

Depois de 40 anos servindo no norte do Paraná, Renate foi para Curitiba onde trabalhou na Casa Matriz e foi uma das mulheres que colaborou para o estabelecimento da Irmandade Evangélica Betânia. Foram anos de trabalho e serviço, mas Deus deu forças para ela e ela pôde com a graça Dele vencer as dificuldades e ser luz onde quer que passasse.



Hoje, ela não exerce mais os trabalhos como diaconisa e sim, descansa e faz algumas visitas pontuais e compartilha sua vida com as novas gerações de jovens e adultos que a conhecem por meio da Irmandade Evangélica Betânia. Na Alemanha, onde vive boa parte do seu tempo ela vê como toda uma geração se afastou de Deus e espera o dia em sua nação buscará novamente a Ele com fé e amor.

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