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"O Bom Pastor me trouxe ao Brasil"



Hanni Elisabeth Schein, tem 75 anos de idade e em 2019 irá comemorar seu jubileu como diaconisa da Irmandade Evangélica Betânia. Foram cinquenta anos servindo a Deus e ao próximo em amor e toda essa história começou na cidade de Frankenberg Ieder, na Alemanha, no final da Segunda Guerra Mundial.


“Nasci no penúltimo ano da guerra, minha mãe conta que nossa cidade estava sendo bombardeada e ela deu à luz dentro de casa. Com a situação do país se agravando, meu pai enviou a mim e toda a família para um vilarejo no norte da Alemanha. Ele foi convocado e por alguns anos minha mãe foi quem cuidou de todos nós. Eram tempos difíceis, por todos os lados havia miséria, pobreza, refugiados e violência contra os alemães. Não havia praticamente nenhum homem nas cidades e vilas, só mulheres e crianças. Fomos nós que tivemos que levantar o país”, lembra.


Apesar da infância difícil, Hanni lembra que aqueles anos foram anos de um despertar espiritual na vida de centenas de pessoas. Desamparadas pela ideologia nazista e pelo próprio bem-estar que usufruíram antes da guerra, agora toda a nação se via abandonada e naquele momento de dor, muitos voltaram para Cristo. Sua família foi uma delas também.



Entrevista com Hanni Schein

Cristo começou sua obra pela minha família


“Minha mãe que era luterana apenas de nome, passou a frequentar um grupo de estudos bíblico. Havia uma missionária vinda da China que dava aulas para as crianças e ensinava várias coisas diferentes, como tocar flauta. Eu amava aquele tempo, eu também amava as lições em que falava que nós, éramos os cordeirinhos de Cristo e Ele é o nosso bom pastor!”


“Nesse mesmo tempo em que nos aproximávamos de Deus, nosso pai voltou da guerra. Ficamos felizes com a sua chegada, éramos uma das poucas famílias que tiveram a chance de rever o pai. Mas ele estava marcado pela guerra, tinha feridas internas e externas. Não acreditava em Deus e sim, no Partido Nazista. Agora porém, estava desiludido. Ele sofreu muito enquanto estava no campo de batalha no front oriental e tornou-se um homem rude e frio. Os primeiros anos para ele foram difíceis, teve que se adaptar à nova realidade do país. O desemprego era geral e nossa casa era o lar de outras famílias refugiadas da Alemanha Oriental que agora fazia parte do Império Soviético. Foi nesse momento que seu coração duro se quebrantou e ele passou a frequentar os grupos de estudos bíblicos e lá, pôde conhecer a Deus e reconheceu-se como pecador”.


Hanni lembra que ao se converter a Cristo, seu pai mudou radicalmente. A transformação foi integral não apenas nele, mas também em sua família. No entanto, a conversão real de Hanni aconteceu apenas quando ela completou 16 anos.


Entregando a vida para Cristo e tornando missionária


“Apesar de acreditar em Cristo e em seu sacrifício, eu particularmente, não havia ainda reconhecido Ele como meu Senhor, muito menos havia me dado conta de como sou pecadora. Até que um dia, ao voltar de uma festa eu me senti mal por estar vivendo uma vida que eu sabia que não era o que Deus queria. Reconheci a minha pecaminosidade e ardeu um desejo de ser uma pessoa correta e justa não só perante as pessoas, mas principalmente perante a Deus. Naquele dia, entreguei minha vida a Ele e disse que a partir de então eu seria Dele e sua vontade seria prioridade na minha vida”, lembra emocionada. “Nunca me senti tão feliz e tão realizada em toda minha vida. Sentia como se tivesse tomada a decisão mais importante e estava irradiando de emoção. Contei para meus pais que também ficaram felizes”, conclui.


“Após minha conversão continuei participando do grupo de estudos bíblicos e passei a estudar e trabalhar como enfermeira. Eu adorava ajudar as pessoas, sentia que esse era meu chamado. Fui trabalhar em um hospital e lá fiz amizades com diaconisas, fiquei admirada com o trabalho delas, mas nunca me imaginei sendo uma”.


“Em uma virada de ano, eu estava lendo a Bíblia e li a passagem de Lucas 6:62. que dizia: ‘Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus’. Assim que li aquele texto eu soube que Deus estava me chamando para servir a Ele integralmente. Eu deveria ficar feliz, mas eu fiquei apavorada, pálida, não queria ser missionária, nem mesmo diaconisa, muito menos deixar meu conforto para viver servindo a desconhecidos. Assim, por quase seis anos eu evitei pensar no chamado de Deus para minha vida. Fui para a Suíça trabalhar como enfermeira. Lá, fiz amizade com mais diaconisas. Parece que Deus sempre colocava pessoas na minha vida que ficavam lembrando indiretamente do meu chamado”.

Naquele hospital, no alto das montanhas da Suíça, Hanni conheceu uma diaconisa que se tornou uma grande amiga, mas faleceu aos 26 anos por conta de um câncer. Hanni lembra que ficou em choque com a morte tão prematura de sua amiga e pensou consigo mesma que apesar da desgraça, ela agora descansava em paz certa que sua missão havia sido cumprida. Ao se avaliar ela percebeu que não poderia dizer o mesmo. “Foi a partir dali que eu decidi que queria cumprir o desejo de Deus para minha vida. Que viver conforme o que eu acreditava ser o melhor não era o correto. Seis anos depois do meu chamado missional eu entrei na casa das Irmãs Diaconisas e me tornei uma.”, conta Hanni.

Da Alemanha para o Brasil


Após a decisão de ser missionária, Hanni passou a fazer parte da Casa das Irmãs Diaconisas, se especializou na área de enfermagem e começou a trabalhar com comunidades vulneráveis da Alemanha. Em meados da década de 60 e 70, a economia do país já havia dado um grande salto. A pobreza diminuíra drasticamente e agora, os antigos refugiados já estavam assentados em novas cidades e vilarejos. Em contrapartida, os trabalhos missionários ao redor do mundo precisavam de mão de obra especializada. Como por exemplo Taiwan.


“Conheci uma diaconisa que havia chegado de Taiwan e contou que lá havia necessidade de ajuda de mais enfermeiras para cuidar de leprosos e de doentes. Eu me inscrevi e fiz os exames para ser enviada ao país. Mas eles deram errados. Segundo os médicos, minha pressão alta e outras limitações do meu corpo não suportariam viver em um país de clima tropical”, recorda.


Foi então que falaram para ela sobre o Brasil e suas terras mais ao sul, que poderia trabalhar como missionária, atender povos indígenas e brasileiros. “Toda minha tristeza desapareceu e deu lugar a uma sensação de que aquilo era a vontade de Deus. Me inscrevi e fui aceita para ir trabalhar no sul do Brasil, onde as temperaturas eram mais amenas”, diz.


Hanni lembra que os primeiros anos no Brasil não foram nada fáceis. A barreira do idioma foi a maior dificuldade que teve que enfrentar, além de não falar português e também não falava o dialeto dos índios. Foi enviada para Rio das Cobras, no Paraná e lá era responsável pelo ambulatório. Nessa mesma época a Fundação Nacional do Índio (Funai) reforçava a fiscalização com grupos religiosos que trabalhavam com os índios e Hanni era pressionada a não errar em absolutamente nada, pois havia o risco do ambulatório ser fechada.


“O pastor Hery era meu supervisor e ele me alertou sobre a importância de se fazer um trabalho sem erros. Não era apenas a saúde dos pacientes que estava em jogo, mas a própria existência da missão. Deus me ajudou e me guiou em todo aquele tempo, tive que aprender rápido sobre os remédios usados no Brasil, os tipos de doenças comuns na região e claro, o idioma. Como foi difícil esse último, eu sentia que não progredia e às vezes chorava de frustração”, lembra.


No entanto, Hanni conseguiu vencer os desafios e se tornou querida pelos moradores locais e indígenas. Seu trabalho foi tão bem sucedido que ela foi encaminhada para atender comunidades de pescadores na Bahia. “Eu sabia que lá eu teria além das dificuldades normais como cultura e idioma, eu teria problemas com a saúde, mas Deus me deu forças e em todo tempo pude trabalhar intensamente”, recorda.


Nas vilas de pescadores, Hanni era encarregada por trabalhar assistindo os moradores espiritualmente, dar suporte aos doentes e também aprender sobre sua cultura. Segundo ela, foram anos em que pôde conhecer muito mais do nordestino e de suas características regionais. “No Paraná eu tinha um grande contato com os índios, lá porém, eu lidava com brasileiros do interior que viviam uma outra realidade e com outra mentalidade. Eram mudanças culturais muito grandes e que eu tive o privilégio de vivenciar. Acho engraçado que Deus age nas pequenas coisas, quando eu era pequena, eu sempre quis comemorar meu aniversário (03 de janeiro) no verão, mas sempre era frio e cheio de neve. Aqui no Brasil porém, janeiro é um mês quente e esse sonho de criança se tornou realidade”, conta emocionada.


Última parada, Curitiba


“Pois bem, eu trabalhei em vários pontos do Brasil. Rio das Cobras, Rio Paraná, Bahia, Ponta Grossa e por último, vim para Curitiba. Aqui trabalhei na casa de idosos e também no Hotel Estância Betânia. No hotel em Colombo, além da parte espiritual, eu também me envolvia nas atividades de recreação para os hóspedes, e como era bom! Fiz várias gincanas e atividades que envolvia crianças, pais e até a equipe do hotel. Foram várias lembranças boas que eles me deixaram. Por último, fui servir a idosos em um ancionato já em Curitiba. Após tantos anos vivenciando tanta coisa em diversas culturas eu já me sentia mais preparada para lidar com aquelas pessoas.”


“Eles me receberam muito bem e ao contrário, não me viam como missionária estrangeira, mas como uma deles. Se não fosse o meu sotaque, muita gente acreditaria que eu era nativa de tão brasileira que eu era”.


Após todos esses anos de trabalho, Hanni se aproxima de celebrar seu jubileu (50 anos) como diaconisa. Ela se aposentará e ao final do ano voltará para a Alemanha, assim poderá desfrutar de sua aposentadoria próximo à família e aos amigos de infância. A Casa das Irmãs Diaconisas da Alemanha trabalha seguindo essa logística, após o jubileu do missionário, ele deve voltar para sua terra natal para tanto ser cuidado quanto estar com os seus.


Nem sempre essa decisão de voltar é fácil. A maioria dos missionários criam raízes nos locais e países onde estão e dizer adeus torna-se para eles uma tarefa difícil. “Eu estou dividida, minha mente diz que tenho que voltar, meu coração quer ficar. Mas eu também sei que meu dever aqui no Brasil foi cumprido, sei que preciso descansar e cuidar de mim agora. Mas não é uma tarefa fácil”, desabafa Hanni.



Hanni e seu cachorrinho de estimação

Lições que levo para a vida


“Ao olhar toda a minha jornada eu digo apenas uma coisa. Jesus Cristo é o nosso bom pastor, que nos guia, cuida e protege. Ele nos conhece melhor do que imaginamos e quando olho para minha trajetória, vejo que ele de fato me guiou em um caminho que eu não poderia jamais imaginar”


“Por muito tempo eu resisti à sua vontade de Deus em minha vida. Por muito tempo, tive medo do desconhecido e de viver em sua dependência. Mas quando permiti Ele controlar minha vida foi simplesmente uma paz sem igual. Ele me guiou em seus braços por todos esses anos. Quando se tem um bom pastor como Deus, não há com o que se preocupar”.





























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